terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A Intervenção

            O cavalo corria em alta velocidade, a agua da chuva batia com ardência em seu corpo, o vento frio duplicava o gelo do tempo. Ashia cavalgava com toda a velocidade, tinha de levar Marcelo até os seus iguais, a profecia tinha de ser anunciada a ele para que pudesse levar a mensagem para os povos oprimidos pelo imperador.

            Eles saiam de uma campina bem arborizada, e entravam num bosque fechado, a chuva atenuara aqui por conta das grandes arvores que impediam o temporal de cair com mais força no solo do bosque. O cavalo desviava com sagacidade das arvores, jogava terra a cada guinada ágil, trotava velozmente te sobre as raízes, relinchava a cada trovão, os grandes pinheiros gemiam ao serem dobrados pelo vento. Parecia que a tempestade os caçava, parecia serem seguidos por seres que voavam entre as nuvens de chumbo.

            O terreno começa a ficar íngreme, grandes pedras cinza misturam-se as arvores que começam a ficar mais espaçadas, Ashia encontra um caminho feito de pedras. A chuva descia impetuosamente, o vento erguia a agua do chão em redemoinhos. A subida fica mais difícil, o chão lamacento é escorregadio, o equino pena a subir.

As arvores começar a rarear e Marcelo nota que ele e Ashia estão subindo uma estrada numa encosta de montanha, o bosque que ficara para trás é coberto por uma fina neblina, é possível ver somente o topo pontudo dos pinheiros. A chuva parece diminuir um pouco, a cavalgada acelera novamente. Eles sobem por um tempo, e param num terreno mais plano, debaixo de uma arvore frondosa, com galhos grossos e poderosos, que os protegia da chuva e vento.

            Ashia desce do cavalo num singelo movimento, retira sua espada e ajuda o garoto a descer do cavalo também. Ela toca as roupas de Marcelo, e um calor denso e profundo circula entre ele e as vestimentas molhadas, em instantes está totalmente seco e aquecido. Ashia ajoelha-se ao pé da arvore, curva o corpo e fecha os olhos. Tudo fica muito quieto, o silencio é acompanhado pela melodia da chuva e vento. Segue-se muito tempo. O vento diminui, a chuva cessa. Inesperadamente a mulher prateada ergue os olhos para o céu, e começa a entoar uma canção. Os cabelos de Marcelo de arrepiam, cada parte do seu corpo enrijece , a musica cantada por Ashia é linda, parece que cada ser envolta respondia à canção. A língua do canto era totalmente desconhecia do rapaz, mas de alguma forma ele entendia. Não sua consciência propriamente dita, mas seu espirito remexia-se alegremente dentro dele, respondendo a canção, que pedia tempos melhores, luz e esperança para o amanhã.

            Ela termina de cantar, os olhos de Marcelo estão molhados de lágrimas, uma fina e prateada escorre dos olhos da mulher misteriosa. Ela abre as janelas da alma, e fita o garoto, inspira profundamente e diz.

            - O Grande Jardineiro, virá em nosso favor. Olhe para os céus.

            Naquele instante Marcelo percebeu que as nuvens de chuva estavam se dissipando e que a luz do sol entrava para a terra novamente. Eles subiram no cavalo, e galoparam por mais uma noite e um dia sem parar para dormir ou comer, sem a chuva e o vento a viajem tornara-se muito mais proveitosa e fácil. No final do segundo dia de viajem Marcelo sentiu fome e curiosidade para saber onde estavam indo. Ashia como se soubesse da fome e curiosidade de Marcelo parou o cavalo debaixo de um cedro robusto e antigo, acende uma fogueira e senta-se no gramado com o rapaz enquanto o sol se punha. Um vento suave espalhava os cabelos de Ashia, e trazia o perfume de abetos jovens aos pulmões de Marcelo.

A mulher misteriosa retira a cela do cavalo e o deixa pastar, bolsas de couro são desprendidas da montaria e retira pães e carnes em conserva. Marcelo come feliz, por conta da deliciosa comida e pelo tempo agradável que fazia.

            -Com aquela chuva toda, não imaginei que fosse ver o sol novamente – disse o rapaz com a voz abafada pelo pão.

            - Realmente. Se o Grande Jardineiro não tivesse dissipado as trevas em nosso favor, não estaríamos apreciando o por do sol. Lindo não é? Agradeço sempre ao Grande Jardineiro por me proporcionar viver em uma de suas criações.

            -Desculpe, mas, quem é o Grande Jardineiro, e onde está Menahe? Tenho saudades dele. E desculpe mais uma pergunta, mas como isso tudo aconteceu? Dessa vez eu não dormi.

            -Peço-lhe desculpa também viajante, as duas primeiras perguntas posso somente responder quando nos reunirmos com meus irmãos. Quanto a terceira essa eu posso. O Grande Guerreiro, conhecido por você como Menahe, determinou que era hora de lhe trazer para nosso mundo definitivamente. Ele é filho do Grande Jardineiro, e os dois são senhores de todos os mundos e dimensões. Você vem do mundo dos homens, devastado pelo mal, aniquilado pelo pecado. Você conhece a muito o Grande Menahe, ele lhe é intimo, no seu mundo, com outro nome, com outra forma, mas aqui Ele tem o mesmo propósito, impedir a morte e escuridão eterna. Impedir o Imperador das Trevas inimigos de todos os seres de escravizar e matar a raça amada, a raça dominadora deste plano. Então não mais visitas passageiras, hoje você veio para fazer parte da história de nossa redenção, hoje você é o Anunciador de boas novas.

            -Entendo, parece tudo tão confuso pra mim, não sei da metade do que você fala. Mas esperarei ate você e seus irmãos me contarem tudo. Acho que tenho mais uma pergunta, posso?

            - Claro Anunciador, você pode me perguntar. – Completou Ashia cheia de risos.

            - O que exatamente é você? Uma Profeta?

            - Não, não. Longe disso. Eu sou o segundo oráculo, de uma raça divida que morava nos palácios do Grande Jardineiro. Eu e meus irmãos o primeiro e terceiro oráculos, fomos designados para proteger os filhos de Adamah, cuidar dessas crianças, somos seres divinos, postos na carne para os proteger.

            - Entendi Ashia. Bom muito obrigado. Sinto-me satisfeito, e com muito sono.

            - Fico feliz que esteja satisfeito Anunciador, porem o sono pode lhe envolver na cela do meu cavalo, pois estamos muito perto do nosso destino, A Floresta de Uma Arvore Só. Meus irmãos escodem-se nela. Essa é uma das únicas florestas não dominadas pelas hordas de Egnor. Depois da queda da raça amada, a arvore da profecia cresceu desordenadamente para proteger o castelo do primeiro rei e rainha dos filhos de Adamah, cresceu e tornou-se um labirinto enorme, hoje a maior floresta que existe no reino, o curioso é que toda a floresta é somente uma arvore, os galhos cresceram e foram se apoiando no chão alastrando-se, florescendo e crescendo sem parar, somente os de puro coração conseguem achar o tronco da arvore, que fica dentro do Palácio de Mármore, Casa dos Primogênitos, nos jardins dos palácios está o tronco e a morada de meus irmãos.


            E tão rápido quanto desceram, os dois montaram o cavalo e prosseguiram a viajem. Marcelo adormecera, Ashia permanecia atenta ao redor, o sol havia se escondido no horizonte e a Grande lua prata de Setir reinava o céu emanando poder e brilho para os caminhos do Oraculo. O Cheiro de Seiva tornava-se palpável, estavam perto, a cada metro ganhavam o terreno para a Floresta De Uma Arvore Só.

...Continua...




2 comentários:

  1. Nem sei o que dizer, Marcelo.
    Lindo, estonteantemente lindo e cativante.
    Minha alegria está divida quanto à sua origem: será que ela nasce da beleza do seu texto ou é da imensa honra que ganhei ao saber que sou inspiração para sua personagem?
    MARAVILHOSO. Pelo bem da humanidade, não pare de escrever.

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  2. Quando chego aqui... realmente estou em cada frase, linha, personagem e ação. Tudo some e só existo aqui. Sinto-me "Marcelo": faminta, curiosa, querendo saber mais sobre o Grande Jardineiro.

    Obrigada, toda vez que passo aqui sou impulsionada a terminar um velho conto guardado em alguma gaveta. ;D

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