quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Informação

Para todos que tem seguido a saga de Marcelo em Adamah o inicio do conto é em outubro com a postagem "O Santuário". o conto anterior, "O Armário" é um apêndice das Cronicas, é interessante ler também.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A Intervenção

            O cavalo corria em alta velocidade, a agua da chuva batia com ardência em seu corpo, o vento frio duplicava o gelo do tempo. Ashia cavalgava com toda a velocidade, tinha de levar Marcelo até os seus iguais, a profecia tinha de ser anunciada a ele para que pudesse levar a mensagem para os povos oprimidos pelo imperador.

            Eles saiam de uma campina bem arborizada, e entravam num bosque fechado, a chuva atenuara aqui por conta das grandes arvores que impediam o temporal de cair com mais força no solo do bosque. O cavalo desviava com sagacidade das arvores, jogava terra a cada guinada ágil, trotava velozmente te sobre as raízes, relinchava a cada trovão, os grandes pinheiros gemiam ao serem dobrados pelo vento. Parecia que a tempestade os caçava, parecia serem seguidos por seres que voavam entre as nuvens de chumbo.

            O terreno começa a ficar íngreme, grandes pedras cinza misturam-se as arvores que começam a ficar mais espaçadas, Ashia encontra um caminho feito de pedras. A chuva descia impetuosamente, o vento erguia a agua do chão em redemoinhos. A subida fica mais difícil, o chão lamacento é escorregadio, o equino pena a subir.

As arvores começar a rarear e Marcelo nota que ele e Ashia estão subindo uma estrada numa encosta de montanha, o bosque que ficara para trás é coberto por uma fina neblina, é possível ver somente o topo pontudo dos pinheiros. A chuva parece diminuir um pouco, a cavalgada acelera novamente. Eles sobem por um tempo, e param num terreno mais plano, debaixo de uma arvore frondosa, com galhos grossos e poderosos, que os protegia da chuva e vento.

            Ashia desce do cavalo num singelo movimento, retira sua espada e ajuda o garoto a descer do cavalo também. Ela toca as roupas de Marcelo, e um calor denso e profundo circula entre ele e as vestimentas molhadas, em instantes está totalmente seco e aquecido. Ashia ajoelha-se ao pé da arvore, curva o corpo e fecha os olhos. Tudo fica muito quieto, o silencio é acompanhado pela melodia da chuva e vento. Segue-se muito tempo. O vento diminui, a chuva cessa. Inesperadamente a mulher prateada ergue os olhos para o céu, e começa a entoar uma canção. Os cabelos de Marcelo de arrepiam, cada parte do seu corpo enrijece , a musica cantada por Ashia é linda, parece que cada ser envolta respondia à canção. A língua do canto era totalmente desconhecia do rapaz, mas de alguma forma ele entendia. Não sua consciência propriamente dita, mas seu espirito remexia-se alegremente dentro dele, respondendo a canção, que pedia tempos melhores, luz e esperança para o amanhã.

            Ela termina de cantar, os olhos de Marcelo estão molhados de lágrimas, uma fina e prateada escorre dos olhos da mulher misteriosa. Ela abre as janelas da alma, e fita o garoto, inspira profundamente e diz.

            - O Grande Jardineiro, virá em nosso favor. Olhe para os céus.

            Naquele instante Marcelo percebeu que as nuvens de chuva estavam se dissipando e que a luz do sol entrava para a terra novamente. Eles subiram no cavalo, e galoparam por mais uma noite e um dia sem parar para dormir ou comer, sem a chuva e o vento a viajem tornara-se muito mais proveitosa e fácil. No final do segundo dia de viajem Marcelo sentiu fome e curiosidade para saber onde estavam indo. Ashia como se soubesse da fome e curiosidade de Marcelo parou o cavalo debaixo de um cedro robusto e antigo, acende uma fogueira e senta-se no gramado com o rapaz enquanto o sol se punha. Um vento suave espalhava os cabelos de Ashia, e trazia o perfume de abetos jovens aos pulmões de Marcelo.

A mulher misteriosa retira a cela do cavalo e o deixa pastar, bolsas de couro são desprendidas da montaria e retira pães e carnes em conserva. Marcelo come feliz, por conta da deliciosa comida e pelo tempo agradável que fazia.

            -Com aquela chuva toda, não imaginei que fosse ver o sol novamente – disse o rapaz com a voz abafada pelo pão.

            - Realmente. Se o Grande Jardineiro não tivesse dissipado as trevas em nosso favor, não estaríamos apreciando o por do sol. Lindo não é? Agradeço sempre ao Grande Jardineiro por me proporcionar viver em uma de suas criações.

            -Desculpe, mas, quem é o Grande Jardineiro, e onde está Menahe? Tenho saudades dele. E desculpe mais uma pergunta, mas como isso tudo aconteceu? Dessa vez eu não dormi.

            -Peço-lhe desculpa também viajante, as duas primeiras perguntas posso somente responder quando nos reunirmos com meus irmãos. Quanto a terceira essa eu posso. O Grande Guerreiro, conhecido por você como Menahe, determinou que era hora de lhe trazer para nosso mundo definitivamente. Ele é filho do Grande Jardineiro, e os dois são senhores de todos os mundos e dimensões. Você vem do mundo dos homens, devastado pelo mal, aniquilado pelo pecado. Você conhece a muito o Grande Menahe, ele lhe é intimo, no seu mundo, com outro nome, com outra forma, mas aqui Ele tem o mesmo propósito, impedir a morte e escuridão eterna. Impedir o Imperador das Trevas inimigos de todos os seres de escravizar e matar a raça amada, a raça dominadora deste plano. Então não mais visitas passageiras, hoje você veio para fazer parte da história de nossa redenção, hoje você é o Anunciador de boas novas.

            -Entendo, parece tudo tão confuso pra mim, não sei da metade do que você fala. Mas esperarei ate você e seus irmãos me contarem tudo. Acho que tenho mais uma pergunta, posso?

            - Claro Anunciador, você pode me perguntar. – Completou Ashia cheia de risos.

            - O que exatamente é você? Uma Profeta?

            - Não, não. Longe disso. Eu sou o segundo oráculo, de uma raça divida que morava nos palácios do Grande Jardineiro. Eu e meus irmãos o primeiro e terceiro oráculos, fomos designados para proteger os filhos de Adamah, cuidar dessas crianças, somos seres divinos, postos na carne para os proteger.

            - Entendi Ashia. Bom muito obrigado. Sinto-me satisfeito, e com muito sono.

            - Fico feliz que esteja satisfeito Anunciador, porem o sono pode lhe envolver na cela do meu cavalo, pois estamos muito perto do nosso destino, A Floresta de Uma Arvore Só. Meus irmãos escodem-se nela. Essa é uma das únicas florestas não dominadas pelas hordas de Egnor. Depois da queda da raça amada, a arvore da profecia cresceu desordenadamente para proteger o castelo do primeiro rei e rainha dos filhos de Adamah, cresceu e tornou-se um labirinto enorme, hoje a maior floresta que existe no reino, o curioso é que toda a floresta é somente uma arvore, os galhos cresceram e foram se apoiando no chão alastrando-se, florescendo e crescendo sem parar, somente os de puro coração conseguem achar o tronco da arvore, que fica dentro do Palácio de Mármore, Casa dos Primogênitos, nos jardins dos palácios está o tronco e a morada de meus irmãos.


            E tão rápido quanto desceram, os dois montaram o cavalo e prosseguiram a viajem. Marcelo adormecera, Ashia permanecia atenta ao redor, o sol havia se escondido no horizonte e a Grande lua prata de Setir reinava o céu emanando poder e brilho para os caminhos do Oraculo. O Cheiro de Seiva tornava-se palpável, estavam perto, a cada metro ganhavam o terreno para a Floresta De Uma Arvore Só.

...Continua...




sábado, 12 de novembro de 2011

... Continuação




Os mundos se entrelaçam

Um estrondo acorda o Rapaz. Seis e meia da manhã, um fraco fio de luz entra no quarto anunciando um dia cinza e frio. Chovia torrencialmente lá fora. Outro estrondo, um trovão, da mesma intensidade do que o acordara. Um uivo, o vento balança a janela, dia difícil. Marcelo levanta, toca com os pés o chão frio, um arrepio. Veste a camisa para evita-lo. Caminha lentamente até o banheiro, escora na parede do corredor, deixa a mente entorpecida pelo sono despertar. O frio aumenta, caminha mais rápido, entra no banheiro liga o chuveiro, deixa a agua quente cair, fecha a porta do toalete e o deixa encher de vapor. A agua quente desvanece o nevoeiro do sono, e tudo começa a chegar  com rapidez  e vivacidade ao intelecto de Marcelo. O sonho, ele tinha sido tão real, a chuva em Adamah, e a chuva na rua quando ele acordara, ainda conseguia sentir o cheiro de Adamah no quarto, o calor e energia intenso ainda percorriam o seu corpo. Pena! Era somente um sonho, queria realmente um dia poder se encontrar com Menahe, poder estar com Ele de verdade.

Adamah parecia mais assustadora dessa vez. Ele não entendeu que guerra o Guerreiro havia falado, sonho era mesmo uma graça, tudo confuso, tudo tão real, mas sem nexo, sem razão.


Terminara o banho, estava desperto agora. Arrumou-se rapidamente, saiu de casa, trancou a porta. Caminhou sozinho pelo corredor do nono andar, como fazia todas as manhãs, hoje mais escuro que de costume, parecia que as trevas de Adamah estavam ali, circundando ele, buscando o anunciador do Guerreiro.


Desce o elevador. Térreo. Caminha pela calçada, o guarda chuva negro enorme o protege da chuva, seus sapatos porem estavam encharcados. Para no ponto coberto, estava lotado, pessoas e pessoas tentavam se proteger da chuva. Depois de três ônibus o dele chega, embarca extremamente apertado, aguarda chegar ao serviço.


Desce, caminha mais um pouco, a chuva aumenta, o vento uiva, sopra a agua do chão. Entra no prédio do trabalho, aperta o botão do elevador, ele acende, espera alguns minutos para ele chegar, entra aperta o andar do escritório, sobe lenta e silenciosamente, apesar do elevador estar cheio, ninguém conversa. As pessoas vão descendo mudas, até ficar Marcelo e mais uma garota.


Ele desce no vigésimo andar, ela continua. Senta na frente do computador, faz o login, cinco minutos adiantado, trabalha, escreve, computa. Hora do almoço. No refeitório a comida por mais temperada desce sem gosto na boca do rapaz. Ele queria viver o real, queria Menahe.


Volta, mais processos, mais arquivos, o chefe aparece, pede para ele organizar uma lista de processos digitais que estavam desorganizados. Marcelo aceita. Fica até mais tarde, as luzes principais são apagadas, o segurança passa e pergunta quanto tempo mais ele vai estar ali, uma resposta desanimada, pelo menos uma hora. Dez e meia, terminara o serviço, com a mente exausta e enxuta caminha lentamente pelo corredor semi-escuro, sente frio, um frio absurdo para a temperatura de um prédio. Aperta o botão do elevador, ele demora a chegar, um vento frio, arrepio na nuca. Medo, barulho, risadas frias. Um sussurro ao vento, um nome, uma ameaça: “- Egnor vem te pegar”. Marcelo vira surpreso, somente penumbra, sombras. Um estalo, o elevador chega.


Ele entra assustado, aperta o térreo, o coração acelerado, o tempo da porta se fechar parece uma eternidade, finalmente ela se fecha. Num ultimo instante ele vê algo se movendo no corredor, um ser rastejando, correndo. A porta se fecha.


O elevador desce, andar por andar o frio intensifica, no meio do oitavo com o sétimo andar o elevador trava, as luzes apagam, as de emergência acendem, pequenas e fracas iluminam toscamente o elevador. Marcelo se desespera, tenta apertar o botão de emergência, não funciona. Ele ouve um som, parecia chuva, e algo mais, as mesmas risadas engasgadas parecem vir de cima. Algo tenebroso parecia descer acima do elevador.


Em desespero Marcelo força a porta, ela não cede. Barulho metálico, algo aterrissa no teto do elevador, um grito, seu nome, promessas de morte ao arauto de Menahe, metal sendo cortado, laminas de machados cortam o teto do elevador.


Um outro barulho, a porta começa a abrir, uma mão feminina se estende para ele, um brilho prateado desprende da mão: -Vem Marcelo, seja rápido.


Ele olha o teto, olhos amarelos o observam pelo buraco aberto, criaturas, seres, demônios. Um grito de desespero abafado, Marcelo pula pela porta, olha em volta, está numa gruta, uma furna coberta de musgo e lama, olha a sua frente, em pé parada uma mulher de cabelos loiros e brilhantes como o sol, com um vestido branco, leve, fluido como o vento, em sua pele tatuagens prateadas, pareciam escritas, contando uma história antiga e um futuro distante.


Ela o puxa para trás, um trovão, um clarão. Do buraco as criaturas saem. O tempo parece parar. A pele das criaturas pareciam feita de terra seca, os olhos grandes e amarelo injetavam maldade a cada canto que olhavam. Cada uma delas tinha uma armadura de cobre, toscamente forjada, com machados e facões.


Eles gritaram em direção da mulher. Baba e sangue escorrem pelo queixo das criaturas. A dama prateada com um movimento rápido puxou um espada fina e longa de suas costas. Um dos monstros pulou, num giro a mulher corta a criatura no meio, sangue preto e denso cai sobre a lama, os outros dois seres correm em direção a ela, uma é golpeada no peito, sendo atravessada, a outra tem a mão que segura o machado cortada, grita cheia de ódio e somo na escuridão.


A mulher se vira para Marcelo, ela brilhava suavemente, parecia a lua, com um brilho doce e prateado.


-Bem vindo Marcelo, sou Ashia, terceiro oraculo do Grande Jardineiro, protetora da raça amada, e anunciadora da verdade, o Grande Guerreiro pediu que eu o achasse, e o levasse até os outros dois oráculos. Temos suas armas e sua armadura, forjada na fé e esperança que alimenta o coração do Grande Jardineiro, nada tema, pois Menahe é conosco.

Continua

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O Chamado

Deitado na cama ele olha o teto, o cansaço era enorme. A pálida Luz da lua iluminava o espelho do quarto e refletia timidamente no teto. Os olhos ardem, pesam, fecham. Dorme. Silencio intenso, escuridão profunda.

Barulho de água, corpo molhado, Chuva! Ele abre os olhos. Frio! Estava no meio de um bosque, arvores gigantes reinavam por todo lado. O céu parecia chumbo, nuvens grossas e pesadas se arrastavam com o vento. Estava numa trilha, num bosque escuro por causa do tempo. A trilha estava pesada por conta da lama, o vento fustigava a face do rapaz, os pingos pesados batiam com ardência sobre a pele.
Resolveu caminhar, escorregava de vez ou outra por conta da terra molhada. Estava lá, sabia disso. Estava no mundo de Menahe, mas nunca encontrara aquela terra assim, nublada, chuvosa, fria e assustadora. Caminhou por algum tempo, a trila foi se espaçando, as arvores dando lugar a pequenas campinas com gramados macios e molhados.  Casebres em ruínas distanciavam-se umas das outras, ervas cresciam a volta delas, em umas das casas Marcelo viu luz. Parecia que alguém estava com a lareira acesa, ia passar por lá, saber onde estava, comer alguma coisa, se aquecer. Chegou na casa, antes de bater uma voz forte o mandou entrar. Era a voz, era Ele, o seu amigo. Ele entrou.
Era Menahe. A lareira não estava acessa, a luz vinha da pele dourada do Homem parado ao centro da cabana, seus cabelos cacheados vermelhos tinham a intensidade de fogo, Dele um calor intenso irradiava, mantendo o frio longe daqueles que perto estavam, bastava ficar perto de Menahe e o frio, a chova, o medo cessavam. Com uma roupa simples, um manto de pano cru e descalço o Homem chama Marcelo para sentar no chão do casebre de frente para ele. Marcelo senta, Menahe também, a energia desprendida dele era impressionante, revigorava as forças, espantava qualquer sentimento, medo, algo nocivo da mente, perto dele o rapaz sentia-se humano novamente.
-Bem vindo Marcelo, é sempre ótimo recebê-lo aqui.
- Menahe, saudades sempre. É sempre ótimo te ver, mesmo que em sonhos.
-Porque “mesmo que em sonhos”? Indagou Menahe.
-Porque queria que fosse real, queria te ver quando acordasse.
-Estar aqui comigo Marcelo é mais real do que em seu mundo, estar comigo é viver de verdade.
-Entendo, desculpe.
-Você não precisa se preocupar, tudo parece confuso, mas vão se esclarecer. – Completou Menahe cheio de Amor.
-Da outra vez que estive aqui foi tão lindo, numa praia, tempo agradável. Hoje da chovendo, tudo parece tão triste.
-Por isso te chamei aqui meu amigo. Tempos escuros estão vindo sobre essa terra, tempos de trevas. E quero que você seja meu parceiro na libertação do povo que meu Pai criou.
-Como?
-Essa chuva e tristeza vêm da escuridão e do mal que se instalou nesse mundo, essas casas já foram habitadas por famílias felizes, hoje criaturas sombrias habitam nesses bosques, escravizando e devorando  os habitantes daqui. O tempo de redenção chegará, mas por enquanto preciso de um guerreiro que me represente, e escolho você, você levará meu nome e combaterá as trevas e seu imperador.
-Mas mo quer aconteceu. Como esse imperador chegou aqui?
-Os reis dessa terra, responsável pelo equilíbrio e pela preparação da vinda de meu Pai entregaram o governo desse mundo as mãos do mal, foram lubridiados. Somente uma magia poderosa que somente eu e meu Pai conhecemos pode libertá-los dessa escravidão. O tempo está para chegar, mas quero que anuncie essa boa nova. Vá e pregue sobre a guerra e sobre o Grande Guerreiro, o libertador dos homens.

CONTINUA

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O Santuario

                Mais um dia estressante, mais um dia cheio de problemas e preocupações. Deitado na cama de cabeça cheia o sono demora a vir, está ansioso para dormir. O escuro, os olhos ardem, a mente vagueia pelo vazio. Aos poucos sua mente adormece. Escuro, silencio.
     Ele ouve um som. É o farfalhas de folhas sendo arrastada pelo vento. Abre os olhos, a luz inunda tudo. Sentado sobre um gramado extremamente macio ele sente a pele ser acariciada pela brisa, o cheiro mar invade seu olfato. Está no alto do penhasco novamente. A paisagem é irreal, montanhas escarpadas cobertas de arvores, cada uma bailando uma valsa encantadora nos braços de ventos carinhosos, o uivo do ar cortando as montanhas entra para sinfonia. As ondas quebrando contra as rochas soam baixinho, é preciso ouvir atentamente. O sol brilha intensamente, porem ele não queima, seu calor é aconchegante, é denso. Ele percebe que a arvore onde está sentado é de alguma fruta que não conhece, não tem fome, mas pega uma para prova-la. Ao se levantar vê uma pequena trilha que entra pela encosta e se perde no meio das arvores. Apanha a fruta, cheira ...tão doce o aroma. Uma mordida. O paladar se perde no sabor, fecha os olhos grava na memoria o sabor, nunca tinha provado algo assim. Abre os olhos, decide seguir pela trilha, descalço e de shorts e camisa branquíssimos começa a caminhada pelo meio do bosque que dominava as encostas, quando chega perto de arvores mais densas a trilha segue beirando p precipício, o mar se rebate azul lá em baixo, a montanha ia diminuindo a medida que caminhava, chegou a uma área plana com arvores mais espaçadas. O som das ondas eram vibrantes agora, e o vento era ainda mais suave e gentil ali embaixo, carregado de um perfume marítimo que o fez sorrir. Porem algo o fez acelerar o coração, o som de um violoncelo pairava pelo ar. Uma melodia doce, calma. Ele não sabia, mas parecia que a musica falava do sol, da praia, do vento, era a trilha sonoro perfeita para o lugar. Ele caminha saboreando a natureza e o som. Chega a praia, o som da musica é mais alto aqui, caminha lentamente desejando sentar ali e ficar ouvindo até anoitecer. A musica para, seu coração para junto, porque? Ela estava tão linda. O som vinha dali de perto, ele decide encontrar o musico e pedir para que toque mais.
     Ele caminha mais, quase até o mar, um pouco a frente avista um homem sentado na areia branca, a luz refletida na areia dava um brilho maior a toda a situação. Seu coração acelerou, era ele, estava ali esperando-o o tempo todo. Chegou até o homem, ele olhava o mar apaixonadamente. Ali estava um pano grande e redondo onde havia um violoncelo repousado na areia brasas, peixe, e pão sendo assados, numa pequena mesa uma jarra simples contendo vinho. Ele sorri e chama pelo homem.
     -Menahe...
O homem sentado na areia se vira, seus olhos marejam
     - Ah ...que saudades Marcelo!
     Numa corrida atrapalhada por conta da areia os dois se abraçam, uma abraço de amor, amor paterno, amor incondicional. Eles se olham demoradamente, Menahe o convida pra sentar, ele toca mais um tanto de musica para Marcelo ouvir. Marcelo chora, não de medo, nem de tristeza, nem dor, mas de amor, de agradecimento, por duas coisas, pela vida que fora entregue para ele poder viver, e pelo santuário criado para os dois.









O despertador toca, sete e meia da manhã, mais um dia de trabalho e fadiga, mais um dia de estresse e dor, mas anoite... anoite a gente se vê.

O Armario

O ar do pequeno quarto estava parado, abafado, viciado. Partículas de poeira pairavam, as paredes encardidas do cubículo eram de um marrom escuro, a parede antes alva agora encardida pendia sujeira de um lado ao outro. A única lâmpada no centro do teto balançava como um pêndulo, sem funcionar, claro, seus pedaços jaziam no chão, brilhando como diamantes misturados a sujeira e lixos no piso que em alguns pontos era totalmente coberto por entulhos e dejetos.
Uma janela pequena e torta trazia luz ao pequeno cômodo com uma única porta; como cortina um trapo balançava ao sabor do vento, descrevendo ondas e vida que vinham de um lugar distante. Ao canto totalmente encolhida havia uma garota. Pequena, frágil, nua, aparentemente com uns vinte e tantos anos. Estava com o rosto escondido entre os braços, numa espécie de sono doentio. A única porta que selada estava, ficava ao lado direito da garota. Lascada e igualmente suja, fundia-se as paredes, quase sem ser notada.
A garota desperta com o barulho que vem da porta. Algo se mexe lá dentro, alguma coisa incomodada, um gemido...tensão, a menina ergue a cabeça, parece não se incomodar com a sujeira. Mais uma batida, a porta treme um pouco, poeira desprende dela. Assustada a mulher levanta, caminha encostada a parede, olhos fixos na porta, passa pela janela... O vento, ah que delicia, parece acariciar sua pele, e a Luz então! Como é linda, tão diferente do cômodo moforento onde está, tenta enxergar lá fora, “não consigo” pensou a menina, meus olhos não estão acostumados. Quer pular a janela, pra conhecer a inebriante luz, mais um gemido, e uma batida forte, algo caiu ali atrás da porta. “Ah... sim, tenho que deixar para conhecer a luz depois” sentencia ela. Continua a caminhada, escorrega num pouco de fezes que tinha feito durante a noite, seus estomago nem embrulha mais, está acostumada com isso a muito tempo. Chega a maçaneta, gira, trancada. Pendurada ao lado da porta uma única chave enferrujada, ela a coloca no trinco gira, a porta destrava, aciona a maçaneta novamente, um clic, a porta abre, um grito não dela, mais da pessoa ali dentro do armário, presa por correntes e ganchos presas a pele não deixando-a sair dali, pés e mãos amarrados, a boca vendada, lagrimas vertiam copiosamente de seus olhos, a garota olha assustada a figura amarrada e ferida, era ELA mesmo, presa no armário. Num piscar de olhos não estava mais assistindo a sua figura acorrentada, ela estava acorrentada dentro do armário, fedendo, ferida imobilizada, escorregando em dejetos e urina, na parede do armário vários diplomas e títulos dados a ela, as correntes eram de ouro, com dizeres e frases escritos em cada gomo. Um homem aparece a porta e sorri, beija-lhe a testa e diz sussurrando em seus ouvidos, “VOCÊ FICA LINDA PRESA COM ESSES SOFISMAS”. A porta se fecha... escuridão, choro, ranger de dentes.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O Menino e Deus

A madrugada já ia alta quando o rapaz sentou-se no parapeito do prédio. A noite soprava uma brisa fresca e o céu brilhava com seus pequenos pontos cintilantes. Lá do parapeito o rapaz via quase toda a cidade, carros, pessoas, de vez ou outra um avião. O escuro trazia uma beleza especial para cada canto daquela cidade. Uma lágrima rolou do rosto do jovem. Como dentro de uma pessoa poderia existir uma dor tão grande, como dentro dele poderia haver tanta tristeza e amargura a ponto de ofuscar seus olhos da beleza e da grandeza que o cercava. O rapaz de calça dins, camiseta cinza e um All Star surrado coloca-se de pé no parapeito do prédio. Um ultimo suspiro e o cheiro da noite o amedrontou. Dor e sofrimento, lágrimas e gritos cessariam ali. O rapaz abre os braços em cima do prédio de cinqüenta andares, o trafego de pedestres desavisados não sabia o que estava para acontecer. Com os braços abertos o rapaz impulsiona seu corpo pra frente. A queda. Ele mantem os olhos abertos o tempo todo, quer ver o fim. Num segundo tudo some. Seria a morte? Não havia doído. O silencio era absoluto, nem frio nem calor, não sentia nada. Estaria de olhos fechados ou abertos, tentou abrir, não sabia se tinha corpo, descobriu que tinha. Estava escuro. Pairava ou estava em cima de algo? Isso ele não sabia ainda. Tateou em busca do corpo, estava ali, nada doía, nada sangrava, nada quebrado. Sua mente o fisgou e trouxe todo um turbilhão de memórias e sofrimentos. Ali lembrou-se do motivo que o determinara a por um fim na sua vida. A dor veio com a mesma força e intensidade, era tudo muito estranho. Estava morto? Se estava porque continuava a existir, e porque a dor não acabara. Luz. A sua volta pontos luminosos começaram a aparecer, podia ver agora a silhueta do seu corpo, estava pairando em posição fetal, esticou o corpo e tentou tocar algo, mas tudo parecia muito distante e irreal. Uma luz mais intensa aproximou-se, ele viu algo que parecia um sol. Se aquilo era um sol, ele estava aonde? No céu? Não podia. Já ouvira falar do que acontecia com suicidas, mas não acreditava, então resolveu esperar. E o rapaz esperou por quanto tempo ele não soube dizer, por que de alguma forma estranha o tempo parecia não existir ali. Mas enquanto ele permaneceu sozinho, a única coisa que fez foi chorar ao lembrar da vida. Chorou e chorou, até cansar-se de se martirizar e de se consolar. Quando parou ele viu que estava mais longe do sol, e que se aproximava de uma espécie de nebulosa brilhante imensa e roxa, como se fosse o céu azul aqui da terra, mas perto daquela nebulosa o nosso céu era apenas uma nuvem. Essa Neblina roxa tinha sua própria luz, parecia muito com as coisas que vemos no espaço através da televisão e não sabemos direito o que é. O rapaz flutuou lentamente em direção a nuvem. Sem saber o porquê seus sentimentos afloravam a cada centímetro que se aproximava da nebulosa, um misto de tudo o que sentira até ali veio e ateou fogo na sua mente. Todo o veneno que o corroia aumentou e consumiu sua alma ainda mais. Lentamente o rapaz entrou na nebulosa, seu coração parecia explodir a cada batida, sua mente parecia derreter a cada centímetro que ele penetrava a nuvem roxa. Debatendo-se ele tentou afastar-se da nuvem, mas era impelido por uma força que não podia controlar. Aos poucos foi adentrando cada vez mais, e cada vez mais. Pareceu anos e anos o tempo em que o rapaz deslizou flutuante para dentro da nebulosa. Até que depois de avançar sem parar ele avistou ao longe no meio da nebulosa uma coisa que lembrava pedra ou algo assim. Não sabia dizer por que estava muito longe e era impossível distinguir o que era dali. Mas imaginou naquele mesmo instante em que avistou o objeto que deveria ser um meteoro. O rapaz flutuou por mais um tempo inexistente, e depois de muito ou pouco tempo ele chegou perto do objeto que vinha em sua direção. O rapaz se espantou ao distinguir o que era. Era um pedaço perfeitamente quadrado de terra como se ela tivesse sido arrancada de algum lugar. O quadrado era todo azulejado de pisos preto e branco em forma de losango, no centro do quadrado havia uma mesa de escritório, com duas cadeiras, uma de frente para outra. Atrás da mesa havia um armário cinza, semelhante aos armários de escritório em que se guardam muitos documentos. Espantado com aquele pedaço de escritório vagando no espaço o rapaz flutuou em sua direção. Ao chegar no quadrado-escritório o rapaz caiu em cima dele, como se ali naquele pedaço de terra existisse gravidade. O rapaz caiu sentado, e ficou ali parado olhando tudo, ele abraçou as pernas e chorou amargamente. Durante quanto tempo ele não sabe, mas ele chorou como nunca havia chorado antes. Com a cabeça entre os joelhos ele gritou a plenos pulmões, gritou para Deus ou para alguma coisa que existisse e arquitetara tudo aquilo: - Deus ou seja lá quem for, eu odeio Você. Você destruiu minha vida, acabou comigo, Você e todo o resto, você fez com que o mundo acabasse pra mim.
E abraçado as sua pernas ele sentiu um profundo e delicioso perfume, algo que lembrava a flores, era doce e terno o cheiro, e o rapaz percebeu que o doce aroma aplacava sua ira, então lentamente ele levantou a cabeça e procurou a fonte do perfume, e para seu espanto o perfume vinha de um homem de uns trinta anos, sentado na mesa de frente para ele, com as mãos entrelaçadas em cima da mesa olhando-o profundamente. Com um pulo o rapaz se levantou ficando em pé, apontou o dedo indicador em riste, suspirou e disse:

- Quem é você. E como você chegou aqui? – sorrindo o homem sentado a mesa estendeu a mão apontando a cadeira respondendo:
- Sente-se querido, suas perguntas serão respondidas, todas no tempo certo. – disse o homem enquanto o rapaz puxou a cadeira e sentou.
            - Tudo bem então, estou sentado. Quem é você?
            - Tenho certeza que estamos aqui para resolver suas questões.
            - Sim e a primeira é quem é você? – perguntou o rapaz irritando-se.
            - Creio que essa não seja a primeira pergunta a ser respondida, mas sim a ultima. A primeira pergunta a ter respostas, creio eu, seria da minha parte pra você.
            - O que?
            - Quem é você?
            - Por que você quer saber meu nome?
            - Eu já sei seu nome, Henrique Cardoso Celibero. Filho de Carlos Henrique Celibero e de Ana Cardoso Félix Celibero. Nascido no dia quatro de agosto de oitenta e seis. Sei muita coisa sobre você. Mas quero saber de você Henrique. Quem é você?
            - Parece que você sabe tudo já, o que eu posso dizer mais? – indagou o rapaz admirado e assustado.
            - Quero saber quem é o Henrique atrás dessa máscara que você criou durante a vida. Se você ainda se lembra o Henrique que você verdadeiramente é.

            Houve um silencio e os olhos do rapaz se encheram de lágrimas novamente.

            - O que você quer dizer com isso? Como assim eu me escondi? Que máscara é essa? Eu sempre fui assim.
            - Será? – ao dizer isso o homem levantou-se e caminhou até o armário e abriu uma gaveta, enquanto estava de costas para Henrique fuçava em papéis. Henrique pela primeira vez observou a roupa do homem que conversava com ele. O homem usava um terno cinza escuro com uma calça igualmente cinza, sapatos pretos brilhantes que refletiam o intenso brilho da nebulosa. A camisa por baixo do terno era branca e uma gravata preta destacava-se do pescoço e sumia no terno. O homem fechou a gaveta e virou-se despertando Henrique de seu olhar analista. O homem vinha carregando nas mãos uma enorme pilha de pastas de arquivo.

            - Gostou da minha roupa? Usei cinza porque sei que você gosta muito. Queria estar bonito pra encontrar com você hoje. Não queria causar uma má impressão.
            - Sabe que gosto de cinza?
            - A sim, claro. Como disse, sei muita coisa sobre você.
            - Mas como sabia que estava olhando sua roupa?
            - Henrique, algumas perguntas só responderei quando acabarmos aqui. Por enquanto vamos nos concentrar em você.

            O homem sentou-se novamente e colocou a pilha de arquivos abriu uma pasta e retirou um papel, era uma foto. Mostrou-a para Henrique. Era uma foto do rapaz recém nascido. Henrique analisou a foto e colocou em cima da mesa, o homem continuou a fita-lo com um sorriso simples no rosto.

            - Certo, sou eu bebê – disse o rapaz- o que você quer provar com isso?






CONTINUA....

Meia Noite

Perguntas pra uma vida

Qual o seu maior medo? Qual o seu maior desejo?
Você tem medo de realizar esse desejo? Ou o desejo lhe causa medo?
Culpa ou vontade? Vontade de sentir culpa? Sonhos ou fantasias?
Ou você fantasia seus sonhos? Alegria ou tristeza? Triste por ser alegre?
Ou alegre por ser triste? Santo ou pecador? Sente-se santo por ser pecador?
Ou pecador por ser santo? Ser ou não ser? Ser para poder existir?
Ou não ser para poder viver? A cada um uma sentença,
A cada vida uma história, em cada ser um universo,
Porem dentro de nós um mesmo desejo, uma única pergunta,
Sem uma única resposta.

Existir

Única, desesperada e sofrida existência.
Tão preciosa, porem tão frágil.
Um sopro a traz, uma brisa a leva,
Quem tem o poder, quem é o maior?
O Soprador, que tem a vida.

Paz

A escuridão invade minha mente, meus olhos se fecham,
Nada mais vejo. Olho dentro de mim,
Vejo-me na mesma montanha agora, o mar pacifico
Doces ondas o movimentam, e uma suave brisa canta uma singela canção,
Tão baixo q o farfalhar das folhas a sobressaem.
Eu esforço a escutar, e em seu refrão escuto: “enfim PAZ”

Madrugada

Mais uma vez não consigo dormir, minha mente não trabalha,
Mas agitada me atormenta vazia. Meus olhos fecham, o sono vem.
Acordo mais uma vez, sinto o pesar da noite, o choro lamuriante da escuridão.
A luz da lua ilumina toscamente os objetos da sala, sombras fantasmagóricas dançam.
Minha mente entorpecida pelo sono, atormentada pelo vazio vagueia por mundos que só eu conheço. Uma lágrima escorre no meu rosto. Não estou triste, muito menos chateado.
Mas chorar me faz bem, limpa minha mente, escorre meus anseios. Mais uma vez adormeço, mergulho no poço escuro do meu psique, não me encontro em lugar nenhum. Aos poucos a neblina do desconhecido desvanece, e eu me vejo em minha pátria, em meu lugar de paz, em minhas criações, no meu mundo. A luz do alvorecer outonal, pálida e fria me acorda mais uma vez. A desesperança de estar mais uma vez nesse lugar me desperta como água fria, mas a lembrança de minha missão me anima mais uma vez. A cada dia devo trazer a um lugar seco e desolado a visão de um mundo melhor, um mundo criado, um mundo mágico, mas um mundo possível.
Sentença

Os movimentos frágeis que me limitam
Remetem meus pensamentos ao qual fraco sou.
Os desastres internos que me acometem hoje refletem
No meu ser, as dores do sentimento manifestam-se
Fisicamente. Do controle ao descontrole.
Um mar de lágrimas tenta levar o sangue das feridas
Causadas na alma, por anos sem fim de martírio auto infringido.
Sem cura, sem esperança, eu meu próprio carrasco assinei
A sentença tão bem conhecida, antecipei o dia, escrevi minha morte.
Sem lágrimas, sem lamuria, sem duvidas, vivo esses dias como
Um grande sofredor, a amar sem ser amado.

Sussuros

Eles vagueam pela mente, com história e contos prontos para serem imprimidos em paginas e paginas para serem lidos. Em cada mundo, em cada ser, em cada lição os sussuros da mente tem uma missão, dar cor ao cinza, felicidade e lagrima aos leitores. Sejam bem-vindos a sussuros, sejam bem vindos a minha imaginação, viajem pelos cantos e sonhos que me permeiam, visite meus mundo e conheçam meus amigos. Escute com atenção, os sussuros estão ai!