sábado, 12 de novembro de 2011

... Continuação




Os mundos se entrelaçam

Um estrondo acorda o Rapaz. Seis e meia da manhã, um fraco fio de luz entra no quarto anunciando um dia cinza e frio. Chovia torrencialmente lá fora. Outro estrondo, um trovão, da mesma intensidade do que o acordara. Um uivo, o vento balança a janela, dia difícil. Marcelo levanta, toca com os pés o chão frio, um arrepio. Veste a camisa para evita-lo. Caminha lentamente até o banheiro, escora na parede do corredor, deixa a mente entorpecida pelo sono despertar. O frio aumenta, caminha mais rápido, entra no banheiro liga o chuveiro, deixa a agua quente cair, fecha a porta do toalete e o deixa encher de vapor. A agua quente desvanece o nevoeiro do sono, e tudo começa a chegar  com rapidez  e vivacidade ao intelecto de Marcelo. O sonho, ele tinha sido tão real, a chuva em Adamah, e a chuva na rua quando ele acordara, ainda conseguia sentir o cheiro de Adamah no quarto, o calor e energia intenso ainda percorriam o seu corpo. Pena! Era somente um sonho, queria realmente um dia poder se encontrar com Menahe, poder estar com Ele de verdade.

Adamah parecia mais assustadora dessa vez. Ele não entendeu que guerra o Guerreiro havia falado, sonho era mesmo uma graça, tudo confuso, tudo tão real, mas sem nexo, sem razão.


Terminara o banho, estava desperto agora. Arrumou-se rapidamente, saiu de casa, trancou a porta. Caminhou sozinho pelo corredor do nono andar, como fazia todas as manhãs, hoje mais escuro que de costume, parecia que as trevas de Adamah estavam ali, circundando ele, buscando o anunciador do Guerreiro.


Desce o elevador. Térreo. Caminha pela calçada, o guarda chuva negro enorme o protege da chuva, seus sapatos porem estavam encharcados. Para no ponto coberto, estava lotado, pessoas e pessoas tentavam se proteger da chuva. Depois de três ônibus o dele chega, embarca extremamente apertado, aguarda chegar ao serviço.


Desce, caminha mais um pouco, a chuva aumenta, o vento uiva, sopra a agua do chão. Entra no prédio do trabalho, aperta o botão do elevador, ele acende, espera alguns minutos para ele chegar, entra aperta o andar do escritório, sobe lenta e silenciosamente, apesar do elevador estar cheio, ninguém conversa. As pessoas vão descendo mudas, até ficar Marcelo e mais uma garota.


Ele desce no vigésimo andar, ela continua. Senta na frente do computador, faz o login, cinco minutos adiantado, trabalha, escreve, computa. Hora do almoço. No refeitório a comida por mais temperada desce sem gosto na boca do rapaz. Ele queria viver o real, queria Menahe.


Volta, mais processos, mais arquivos, o chefe aparece, pede para ele organizar uma lista de processos digitais que estavam desorganizados. Marcelo aceita. Fica até mais tarde, as luzes principais são apagadas, o segurança passa e pergunta quanto tempo mais ele vai estar ali, uma resposta desanimada, pelo menos uma hora. Dez e meia, terminara o serviço, com a mente exausta e enxuta caminha lentamente pelo corredor semi-escuro, sente frio, um frio absurdo para a temperatura de um prédio. Aperta o botão do elevador, ele demora a chegar, um vento frio, arrepio na nuca. Medo, barulho, risadas frias. Um sussurro ao vento, um nome, uma ameaça: “- Egnor vem te pegar”. Marcelo vira surpreso, somente penumbra, sombras. Um estalo, o elevador chega.


Ele entra assustado, aperta o térreo, o coração acelerado, o tempo da porta se fechar parece uma eternidade, finalmente ela se fecha. Num ultimo instante ele vê algo se movendo no corredor, um ser rastejando, correndo. A porta se fecha.


O elevador desce, andar por andar o frio intensifica, no meio do oitavo com o sétimo andar o elevador trava, as luzes apagam, as de emergência acendem, pequenas e fracas iluminam toscamente o elevador. Marcelo se desespera, tenta apertar o botão de emergência, não funciona. Ele ouve um som, parecia chuva, e algo mais, as mesmas risadas engasgadas parecem vir de cima. Algo tenebroso parecia descer acima do elevador.


Em desespero Marcelo força a porta, ela não cede. Barulho metálico, algo aterrissa no teto do elevador, um grito, seu nome, promessas de morte ao arauto de Menahe, metal sendo cortado, laminas de machados cortam o teto do elevador.


Um outro barulho, a porta começa a abrir, uma mão feminina se estende para ele, um brilho prateado desprende da mão: -Vem Marcelo, seja rápido.


Ele olha o teto, olhos amarelos o observam pelo buraco aberto, criaturas, seres, demônios. Um grito de desespero abafado, Marcelo pula pela porta, olha em volta, está numa gruta, uma furna coberta de musgo e lama, olha a sua frente, em pé parada uma mulher de cabelos loiros e brilhantes como o sol, com um vestido branco, leve, fluido como o vento, em sua pele tatuagens prateadas, pareciam escritas, contando uma história antiga e um futuro distante.


Ela o puxa para trás, um trovão, um clarão. Do buraco as criaturas saem. O tempo parece parar. A pele das criaturas pareciam feita de terra seca, os olhos grandes e amarelo injetavam maldade a cada canto que olhavam. Cada uma delas tinha uma armadura de cobre, toscamente forjada, com machados e facões.


Eles gritaram em direção da mulher. Baba e sangue escorrem pelo queixo das criaturas. A dama prateada com um movimento rápido puxou um espada fina e longa de suas costas. Um dos monstros pulou, num giro a mulher corta a criatura no meio, sangue preto e denso cai sobre a lama, os outros dois seres correm em direção a ela, uma é golpeada no peito, sendo atravessada, a outra tem a mão que segura o machado cortada, grita cheia de ódio e somo na escuridão.


A mulher se vira para Marcelo, ela brilhava suavemente, parecia a lua, com um brilho doce e prateado.


-Bem vindo Marcelo, sou Ashia, terceiro oraculo do Grande Jardineiro, protetora da raça amada, e anunciadora da verdade, o Grande Guerreiro pediu que eu o achasse, e o levasse até os outros dois oráculos. Temos suas armas e sua armadura, forjada na fé e esperança que alimenta o coração do Grande Jardineiro, nada tema, pois Menahe é conosco.

Continua

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O Chamado

Deitado na cama ele olha o teto, o cansaço era enorme. A pálida Luz da lua iluminava o espelho do quarto e refletia timidamente no teto. Os olhos ardem, pesam, fecham. Dorme. Silencio intenso, escuridão profunda.

Barulho de água, corpo molhado, Chuva! Ele abre os olhos. Frio! Estava no meio de um bosque, arvores gigantes reinavam por todo lado. O céu parecia chumbo, nuvens grossas e pesadas se arrastavam com o vento. Estava numa trilha, num bosque escuro por causa do tempo. A trilha estava pesada por conta da lama, o vento fustigava a face do rapaz, os pingos pesados batiam com ardência sobre a pele.
Resolveu caminhar, escorregava de vez ou outra por conta da terra molhada. Estava lá, sabia disso. Estava no mundo de Menahe, mas nunca encontrara aquela terra assim, nublada, chuvosa, fria e assustadora. Caminhou por algum tempo, a trila foi se espaçando, as arvores dando lugar a pequenas campinas com gramados macios e molhados.  Casebres em ruínas distanciavam-se umas das outras, ervas cresciam a volta delas, em umas das casas Marcelo viu luz. Parecia que alguém estava com a lareira acesa, ia passar por lá, saber onde estava, comer alguma coisa, se aquecer. Chegou na casa, antes de bater uma voz forte o mandou entrar. Era a voz, era Ele, o seu amigo. Ele entrou.
Era Menahe. A lareira não estava acessa, a luz vinha da pele dourada do Homem parado ao centro da cabana, seus cabelos cacheados vermelhos tinham a intensidade de fogo, Dele um calor intenso irradiava, mantendo o frio longe daqueles que perto estavam, bastava ficar perto de Menahe e o frio, a chova, o medo cessavam. Com uma roupa simples, um manto de pano cru e descalço o Homem chama Marcelo para sentar no chão do casebre de frente para ele. Marcelo senta, Menahe também, a energia desprendida dele era impressionante, revigorava as forças, espantava qualquer sentimento, medo, algo nocivo da mente, perto dele o rapaz sentia-se humano novamente.
-Bem vindo Marcelo, é sempre ótimo recebê-lo aqui.
- Menahe, saudades sempre. É sempre ótimo te ver, mesmo que em sonhos.
-Porque “mesmo que em sonhos”? Indagou Menahe.
-Porque queria que fosse real, queria te ver quando acordasse.
-Estar aqui comigo Marcelo é mais real do que em seu mundo, estar comigo é viver de verdade.
-Entendo, desculpe.
-Você não precisa se preocupar, tudo parece confuso, mas vão se esclarecer. – Completou Menahe cheio de Amor.
-Da outra vez que estive aqui foi tão lindo, numa praia, tempo agradável. Hoje da chovendo, tudo parece tão triste.
-Por isso te chamei aqui meu amigo. Tempos escuros estão vindo sobre essa terra, tempos de trevas. E quero que você seja meu parceiro na libertação do povo que meu Pai criou.
-Como?
-Essa chuva e tristeza vêm da escuridão e do mal que se instalou nesse mundo, essas casas já foram habitadas por famílias felizes, hoje criaturas sombrias habitam nesses bosques, escravizando e devorando  os habitantes daqui. O tempo de redenção chegará, mas por enquanto preciso de um guerreiro que me represente, e escolho você, você levará meu nome e combaterá as trevas e seu imperador.
-Mas mo quer aconteceu. Como esse imperador chegou aqui?
-Os reis dessa terra, responsável pelo equilíbrio e pela preparação da vinda de meu Pai entregaram o governo desse mundo as mãos do mal, foram lubridiados. Somente uma magia poderosa que somente eu e meu Pai conhecemos pode libertá-los dessa escravidão. O tempo está para chegar, mas quero que anuncie essa boa nova. Vá e pregue sobre a guerra e sobre o Grande Guerreiro, o libertador dos homens.

CONTINUA