segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O Santuario

                Mais um dia estressante, mais um dia cheio de problemas e preocupações. Deitado na cama de cabeça cheia o sono demora a vir, está ansioso para dormir. O escuro, os olhos ardem, a mente vagueia pelo vazio. Aos poucos sua mente adormece. Escuro, silencio.
     Ele ouve um som. É o farfalhas de folhas sendo arrastada pelo vento. Abre os olhos, a luz inunda tudo. Sentado sobre um gramado extremamente macio ele sente a pele ser acariciada pela brisa, o cheiro mar invade seu olfato. Está no alto do penhasco novamente. A paisagem é irreal, montanhas escarpadas cobertas de arvores, cada uma bailando uma valsa encantadora nos braços de ventos carinhosos, o uivo do ar cortando as montanhas entra para sinfonia. As ondas quebrando contra as rochas soam baixinho, é preciso ouvir atentamente. O sol brilha intensamente, porem ele não queima, seu calor é aconchegante, é denso. Ele percebe que a arvore onde está sentado é de alguma fruta que não conhece, não tem fome, mas pega uma para prova-la. Ao se levantar vê uma pequena trilha que entra pela encosta e se perde no meio das arvores. Apanha a fruta, cheira ...tão doce o aroma. Uma mordida. O paladar se perde no sabor, fecha os olhos grava na memoria o sabor, nunca tinha provado algo assim. Abre os olhos, decide seguir pela trilha, descalço e de shorts e camisa branquíssimos começa a caminhada pelo meio do bosque que dominava as encostas, quando chega perto de arvores mais densas a trilha segue beirando p precipício, o mar se rebate azul lá em baixo, a montanha ia diminuindo a medida que caminhava, chegou a uma área plana com arvores mais espaçadas. O som das ondas eram vibrantes agora, e o vento era ainda mais suave e gentil ali embaixo, carregado de um perfume marítimo que o fez sorrir. Porem algo o fez acelerar o coração, o som de um violoncelo pairava pelo ar. Uma melodia doce, calma. Ele não sabia, mas parecia que a musica falava do sol, da praia, do vento, era a trilha sonoro perfeita para o lugar. Ele caminha saboreando a natureza e o som. Chega a praia, o som da musica é mais alto aqui, caminha lentamente desejando sentar ali e ficar ouvindo até anoitecer. A musica para, seu coração para junto, porque? Ela estava tão linda. O som vinha dali de perto, ele decide encontrar o musico e pedir para que toque mais.
     Ele caminha mais, quase até o mar, um pouco a frente avista um homem sentado na areia branca, a luz refletida na areia dava um brilho maior a toda a situação. Seu coração acelerou, era ele, estava ali esperando-o o tempo todo. Chegou até o homem, ele olhava o mar apaixonadamente. Ali estava um pano grande e redondo onde havia um violoncelo repousado na areia brasas, peixe, e pão sendo assados, numa pequena mesa uma jarra simples contendo vinho. Ele sorri e chama pelo homem.
     -Menahe...
O homem sentado na areia se vira, seus olhos marejam
     - Ah ...que saudades Marcelo!
     Numa corrida atrapalhada por conta da areia os dois se abraçam, uma abraço de amor, amor paterno, amor incondicional. Eles se olham demoradamente, Menahe o convida pra sentar, ele toca mais um tanto de musica para Marcelo ouvir. Marcelo chora, não de medo, nem de tristeza, nem dor, mas de amor, de agradecimento, por duas coisas, pela vida que fora entregue para ele poder viver, e pelo santuário criado para os dois.









O despertador toca, sete e meia da manhã, mais um dia de trabalho e fadiga, mais um dia de estresse e dor, mas anoite... anoite a gente se vê.

O Armario

O ar do pequeno quarto estava parado, abafado, viciado. Partículas de poeira pairavam, as paredes encardidas do cubículo eram de um marrom escuro, a parede antes alva agora encardida pendia sujeira de um lado ao outro. A única lâmpada no centro do teto balançava como um pêndulo, sem funcionar, claro, seus pedaços jaziam no chão, brilhando como diamantes misturados a sujeira e lixos no piso que em alguns pontos era totalmente coberto por entulhos e dejetos.
Uma janela pequena e torta trazia luz ao pequeno cômodo com uma única porta; como cortina um trapo balançava ao sabor do vento, descrevendo ondas e vida que vinham de um lugar distante. Ao canto totalmente encolhida havia uma garota. Pequena, frágil, nua, aparentemente com uns vinte e tantos anos. Estava com o rosto escondido entre os braços, numa espécie de sono doentio. A única porta que selada estava, ficava ao lado direito da garota. Lascada e igualmente suja, fundia-se as paredes, quase sem ser notada.
A garota desperta com o barulho que vem da porta. Algo se mexe lá dentro, alguma coisa incomodada, um gemido...tensão, a menina ergue a cabeça, parece não se incomodar com a sujeira. Mais uma batida, a porta treme um pouco, poeira desprende dela. Assustada a mulher levanta, caminha encostada a parede, olhos fixos na porta, passa pela janela... O vento, ah que delicia, parece acariciar sua pele, e a Luz então! Como é linda, tão diferente do cômodo moforento onde está, tenta enxergar lá fora, “não consigo” pensou a menina, meus olhos não estão acostumados. Quer pular a janela, pra conhecer a inebriante luz, mais um gemido, e uma batida forte, algo caiu ali atrás da porta. “Ah... sim, tenho que deixar para conhecer a luz depois” sentencia ela. Continua a caminhada, escorrega num pouco de fezes que tinha feito durante a noite, seus estomago nem embrulha mais, está acostumada com isso a muito tempo. Chega a maçaneta, gira, trancada. Pendurada ao lado da porta uma única chave enferrujada, ela a coloca no trinco gira, a porta destrava, aciona a maçaneta novamente, um clic, a porta abre, um grito não dela, mais da pessoa ali dentro do armário, presa por correntes e ganchos presas a pele não deixando-a sair dali, pés e mãos amarrados, a boca vendada, lagrimas vertiam copiosamente de seus olhos, a garota olha assustada a figura amarrada e ferida, era ELA mesmo, presa no armário. Num piscar de olhos não estava mais assistindo a sua figura acorrentada, ela estava acorrentada dentro do armário, fedendo, ferida imobilizada, escorregando em dejetos e urina, na parede do armário vários diplomas e títulos dados a ela, as correntes eram de ouro, com dizeres e frases escritos em cada gomo. Um homem aparece a porta e sorri, beija-lhe a testa e diz sussurrando em seus ouvidos, “VOCÊ FICA LINDA PRESA COM ESSES SOFISMAS”. A porta se fecha... escuridão, choro, ranger de dentes.