segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O Armario

O ar do pequeno quarto estava parado, abafado, viciado. Partículas de poeira pairavam, as paredes encardidas do cubículo eram de um marrom escuro, a parede antes alva agora encardida pendia sujeira de um lado ao outro. A única lâmpada no centro do teto balançava como um pêndulo, sem funcionar, claro, seus pedaços jaziam no chão, brilhando como diamantes misturados a sujeira e lixos no piso que em alguns pontos era totalmente coberto por entulhos e dejetos.
Uma janela pequena e torta trazia luz ao pequeno cômodo com uma única porta; como cortina um trapo balançava ao sabor do vento, descrevendo ondas e vida que vinham de um lugar distante. Ao canto totalmente encolhida havia uma garota. Pequena, frágil, nua, aparentemente com uns vinte e tantos anos. Estava com o rosto escondido entre os braços, numa espécie de sono doentio. A única porta que selada estava, ficava ao lado direito da garota. Lascada e igualmente suja, fundia-se as paredes, quase sem ser notada.
A garota desperta com o barulho que vem da porta. Algo se mexe lá dentro, alguma coisa incomodada, um gemido...tensão, a menina ergue a cabeça, parece não se incomodar com a sujeira. Mais uma batida, a porta treme um pouco, poeira desprende dela. Assustada a mulher levanta, caminha encostada a parede, olhos fixos na porta, passa pela janela... O vento, ah que delicia, parece acariciar sua pele, e a Luz então! Como é linda, tão diferente do cômodo moforento onde está, tenta enxergar lá fora, “não consigo” pensou a menina, meus olhos não estão acostumados. Quer pular a janela, pra conhecer a inebriante luz, mais um gemido, e uma batida forte, algo caiu ali atrás da porta. “Ah... sim, tenho que deixar para conhecer a luz depois” sentencia ela. Continua a caminhada, escorrega num pouco de fezes que tinha feito durante a noite, seus estomago nem embrulha mais, está acostumada com isso a muito tempo. Chega a maçaneta, gira, trancada. Pendurada ao lado da porta uma única chave enferrujada, ela a coloca no trinco gira, a porta destrava, aciona a maçaneta novamente, um clic, a porta abre, um grito não dela, mais da pessoa ali dentro do armário, presa por correntes e ganchos presas a pele não deixando-a sair dali, pés e mãos amarrados, a boca vendada, lagrimas vertiam copiosamente de seus olhos, a garota olha assustada a figura amarrada e ferida, era ELA mesmo, presa no armário. Num piscar de olhos não estava mais assistindo a sua figura acorrentada, ela estava acorrentada dentro do armário, fedendo, ferida imobilizada, escorregando em dejetos e urina, na parede do armário vários diplomas e títulos dados a ela, as correntes eram de ouro, com dizeres e frases escritos em cada gomo. Um homem aparece a porta e sorri, beija-lhe a testa e diz sussurrando em seus ouvidos, “VOCÊ FICA LINDA PRESA COM ESSES SOFISMAS”. A porta se fecha... escuridão, choro, ranger de dentes.

Um comentário: